14/01/16 - Sobre a sensação da partida:
esse silêncio que paira no ar e o caminhar fixo para frente. O alívio e o aperto.
As decisões envolvem muitas opções. Qual a sensação de fazer a escolha certa? Esse misto? "Eu não consigo estar em algo se não for por inteiro". Guardemos as recordações. Toda partida tem antes uma chegada. E o vácuo que fica entre uma e outra? As palavras são coisas engraçadas. Se relacionam e mudam sentidos. Somos palavras sentadas na arquibancada de uma quadra de vôlei.
Não percebemos que esse dia, que sempre nos foi especial, já carregava o sabor do adeus. Os mesmos motivos, mas com o coração mil vezes mais repleto de sentimentos. Eu vou guardar as lembranças e as sensações porque foi bonito e gostoso demais. Mas, por agora, não quero lembrar.
Não quero lembrar de como fui pra São Paulo, naquele março, ouvindo Love Someone repetidas vezes. E de como você estava me esperando na livraria, no cafe, com a camiseta branca. E de como foi bom te abraçar naquele momento. De como foi bom te amar naquela noite. Não quero lembrar do seu sorriso dos olhos, aquele quando você come. Não quero lembrar da forma como nos encaixamos, não importa se somos só ossos, ou se estamos desajeitados e tortos. Não quero lembrar dos cafés da manhã e dos acordares ao teu lado. Muito menos dos apagares de luz. Não quero lembrar da última viagem para a praia, nem da primeira para o frio. Nem das tardes de video game, nem das massas que você faz. Não quero lembrar dos temakis e das músicas antigas que ouvíamos juntos. Não quero lembrar do carnaval, nem dos feriados prolongados, nem dos cafés, nem dos almoços, nem das luas. Não quero lembrar das noites no carro, das conversas até o dia amanhecer, nem dos amores sob estrelas. Não quero lembrar das imagens do futuro, nenhuma delas. Não quero lembrar do primeiro abraço, não quero lembrar do último.
Não quero lembrar de todas as coisas que eu não criava expectativa e que eram tão naturais quanto respirar. Não quero lembrar que não faz sentido algum estarmos longe.
Por dentro me rasgo, violenta e sem piedade. No meu peito é um vazio, pacífico e silencioso, que tortura e não consegue se preencher de mais nada.
Mas eu te amo, e eu me amo também. E que você encontre alguém que te ame da mesma forma. E que meu coração continue voando livre. E que talvez, um dia, as nossas energias se encontrem novamente, e que a gente se curta no Instagram, e que você me convide pra comer temaki, ou eu te convide pra comer guacamole. E que tudo o que ficou pra trás se torne presente.
Eu não acredito em deus, então me jogo para o universo.. e que ele tome conta de mim, e que eu me aventure por ele, e que, se nos reencontrarmos, seja sem dúvidas ou arrependimentos, amém.
Eu quero aquele amor leve, que "vem, vai.. vem, vai.."
Viver gera necessidade
E ai, chega que me confundo todo
Amar gera propriedade
Daí, já não é mais aquele amor que
Vem, vai, vem, vai e vem, vai
Cheio de si
Vai e vem, vai, vem, vai
Cheio de si
E mais que ironicamente, nosso adeus foi no dia do abraço.