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quarta-feira, 24 de maio de 2017

Dia do Abraço

14/01/16 - Sobre a sensação da partida:
esse silêncio que paira no ar e o caminhar fixo para frente. O alívio e o aperto.

As decisões envolvem muitas opções. Qual a sensação de fazer a escolha certa? Esse misto? "Eu não consigo estar em algo se não for por inteiro". Guardemos as recordações. Toda partida tem antes uma chegada. E o vácuo que fica entre uma e outra? As palavras são coisas engraçadas. Se relacionam e mudam sentidos. Somos palavras sentadas na arquibancada de uma quadra de vôlei. 

Não percebemos que esse dia, que sempre nos foi especial, já carregava o sabor do adeus. Os mesmos motivos, mas com o coração mil vezes mais repleto de sentimentos. Eu vou guardar as lembranças e as sensações porque foi bonito e gostoso demais. Mas, por agora, não quero lembrar. 

Não quero lembrar de como fui pra São Paulo, naquele março, ouvindo Love Someone repetidas vezes. E de como você estava me esperando na livraria, no cafe, com a camiseta branca. E de como foi bom te abraçar naquele momento. De como foi bom te amar naquela noite. Não quero lembrar do seu sorriso dos olhos, aquele quando você come. Não quero lembrar da forma como nos encaixamos, não importa se somos só ossos, ou se estamos desajeitados e tortos. Não quero lembrar dos cafés da manhã e dos acordares ao teu lado. Muito menos dos apagares de luz. Não quero lembrar da última viagem para a praia, nem da primeira para o frio. Nem das tardes de video game, nem das massas que você faz. Não quero lembrar dos temakis e das músicas antigas que ouvíamos juntos. Não quero lembrar do carnaval, nem dos feriados prolongados, nem dos cafés, nem dos almoços, nem das luas. Não quero lembrar das noites no carro, das conversas até o dia amanhecer, nem dos amores sob estrelas. Não quero lembrar das imagens do futuro, nenhuma delas. Não quero lembrar do primeiro abraço, não quero lembrar do último. 

Não quero lembrar de todas as coisas que eu não criava expectativa e que eram tão naturais quanto respirar. Não quero lembrar que não faz sentido algum estarmos longe. 

Por dentro me rasgo, violenta e sem piedade. No meu peito é um vazio, pacífico e silencioso, que tortura e não consegue se preencher de mais nada. 

Mas eu te amo, e eu me amo também. E que você encontre alguém que te ame da mesma forma. E que meu coração continue voando livre. E que talvez, um dia, as nossas energias se encontrem novamente, e que a gente se curta no Instagram, e que você me convide pra comer temaki, ou eu te convide pra comer guacamole. E que tudo o que ficou pra trás se torne presente. 

Eu não acredito em deus, então me jogo para o universo.. e que ele tome conta de mim, e que eu me aventure por ele, e que, se nos reencontrarmos, seja sem dúvidas ou arrependimentos, amém. 

Eu quero aquele amor leve, que "vem, vai.. vem, vai.."

Viver gera necessidade
E ai, chega que me confundo todo
Amar gera propriedade
Daí, já não é mais aquele amor que


Vem, vai, vem, vai e vem, vai
Cheio de si
Vai e vem, vai, vem, vai
Cheio de si
E mais que ironicamente, nosso adeus foi no dia do abraço. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Encaixes

O post de hoje pode parecer mais um texto de auto ajuda ou de auto reflexão do que propriamente um post do meu blog. Faz tempo que não escrevo, acho que já nem sei como é um post do meu blog.. 

Sabe.. as vezes volto e releio as postagens.. as vezes por temas, ou por sentimentos, ou por pessoas. Incrível perceber como isso sempre foi uma forma de verbalizar segredos, compartilhar dores, mesmo que por imaginação. Agora não passará de registro, porque tudo o que tem de ser dito está sendo dito, mesmo que não com palavras e mesmo truncado. Dá pra entender o porquê de eu ter escolhido usar linguagem corporal na direção, não é? rs. Mas.. sabe? Agora há pouco, foi até estranho logar com esse email e usar a mesma senha de um site que já nem mais funciona. E perceber quanta coisa mudou.

Quanta coisa aconteceu.

Das conversas e situações. 21 anos comigo, eu me conheço por agora. Mas o que me surpreende é, apesar de me conhecer, escolher a outra opção, porque sem ela parece que nada faria mais sentido. Serei sincera: "tô" me sentindo a dona do conhecimento (sorriso envergonhado), só porque tenho descoberto coisas e me deixado levar por outras que tenho medo. Como, por exemplo, permitir que adentrem meu mundo fora da ordem, com roupas no chão e copos sujos na estante. E sentir raiva, depois tristeza, depois saudade, depois alegria, depois vazio, depois.. depois.. depois.. SENTIR. De verdade. E numa intensidade gigantesca num espaço de tempo minúsculo. (sim, minúsculo, se comparado com a pretensão de tempo do sentir) Mas calma!! O pensamento não mudou rs. Tão boa essa liberdade de voar e retornar. 
Ou voar junto
E confiar na dança do coração.

O ano já está acabando.. de novo. E de novo também aquela sensação de fim de ano. E as marcas de pessoas passadas, de conversas passadas.. Dentre os significados do amor: Eu amo estar aqui. Assim, dessa forma como estou - sentada na cadeira, pé direito apoiado no chão, pé esquerdo dobrado e apoiado na coxa direita, com um travesseiro no colo e um shorts. E também da outra forma como estou - coração palpitante, vivo, sono, cheia dessa interminável saudade. Eu ainda não sei o que significa a vida, por vezes não me faz sentido algum.. e, no entanto.. desejar pelo menos mais três dessas.. só para poder continuar amando cada parte de um mesmo corpo.. cada detalhe. Detalhes que tenho dificuldade em lembrar, mas que sinto com cada parte do meu corpo sensível. Só para poder continuar me sentindo boba. E continuar tropeçando e caindo e aprendendo. Só para poder passar tardes, noites e manhãs me encaixando.. te encaixando. Não há felicidade ou qualquer sentimento que possa exprimir isso, tão complexo e completo, que estou sentindo. Poderia tentar dar um nome, mas pelo Bumbum você deve ter percebido que não sou tão boa com isso rs. 

Andar de mãos dadas e querer que elas fiquem coladas. 
Comparar a vida com os filmes.
Perceber os filmes na vida. E que se eles foram feitos por pessoas, então são sim possíveis, assim como os sonhos. Ainda não me decidi em qual estou.. 

Acabou que virou mais um desabafo.. rs. Mas um desabafo cheio desse sentimento com nome que não é Bumbum. Pra dizer que tenho descoberto, para além do clichê do amor, o que é realmente outra pessoa. E de como é realmente partilhar, compartilhar.. deixar-se transbordar. 

terça-feira, 5 de julho de 2016

Torção

Talvez eu esteja abalada, para além da tpm. Tenho tido sonhos e pesadelos estranhos, significativos, na maior parte ruins, ou que trazem lembranças ruins quando acordo. Ontem quase morri por duas vezes - da forma como eu desde pequena falo que gostaria que fosse. Eu fiquei bem triste com isso. Junta o estágio e eu fico ainda mais. Junta o comentário que ouvi ontem e piora. E fico tentando pensar se também sou assim tão egoísta, tão hipócrita, tão egocêntrica, narcisista, idiota. E se eu for.. que nojo de mim mesma. Tem momentos como esses - olhos fechados, pernas entre os braços, um lado ouve música, outro ouve sons de folhas dançando com o vento, e o cheiro úmido de tantas imagens - em que a única pergunta é "por que?", as vezes seria melhor não me ter para fazer essa pergunta, principalmente se não houver porquê. Eu queria ser livre, dançar pela calçada de pedras semi ilunimada, das luzes verdes, amarelas, do corredor de muros e árvores. Parar bem ao centro, deixar a cabeça pender para trás e sentir o ar envolver o pescoço com a boca semi aberta. Depois girar. Depois pular. E chorar aos soluços. Mas eu imagino o que pensariam - sei que viriam me incomodar. Queria ter coragem de ir adiante. Mas eu sento num banco, o mais próximo. E me encolho. E finjo que está suficiente. Finjo que a intenção era um lugar de passagem. Que os sussurros alheios me interessam. Em qual momento paramos de nos importar? 

(longa pausa)

uuuu u-u-u u-u-u u-u-uuuuuuu

(silêncio)

a mesma sensação de torção na língua de quando se come a banana ou o caqui ainda verde
mas é por dentro, no peito

Perna tá queimando. 

Sei onde tá o meu lado teimosa - quando me mandam fazer algo que quem tem que decidir sou eu.
Odeio sentir essa raiva
Odeio depender de outras pessoas (fisicamente, materialmente, emocionalmente)
Odeio o peso do tempo
Odeio ter que me comportar por outras pessoas
Odeio pessoas que gritam com outras
Odeio as palavras

briga comigo

pode arrancar tudo, desde que pare, pode arrancar

sensação de abandono
também odeio


quarta-feira, 11 de maio de 2016

Apanhadão

Sobre a experiência de estar em mim nos últimos meses. De estar realmente em mim.

Tem tanta coisa que nem dá pra falar direito. Mas a fim de registrar, nem que seja uma fagulha.

- sem ordem cronológica -

A paz de acordar cedo, tomar um chá com leite e ler despretensiosamente. Ler por vontade, não por obrigação. Fazia tempo que isso não acontecia.

Das coisas que surgem devagar, ainda que tão rápidas. Quando você percebe, está em ti, impregnado. Da leveza dos relacionamentos: pular na cama, esquecer do celular, cantar muito alto, pegar um ônibus pra visitar a amiga, andar de braços entrelaçados com a mãe,

Anteontem, num dos mundos, antes e depois do cinema, a cidade estava molhada da chuva.
-10 de janeiro de 2016
Peguei carona com um moço bem bonzinho que me deixou em casa, porque estava chovendo. Eu vi a cidade a noite brilhando da chuva e me apaixonei. E nesse instante pensei em você - sob os efeitos do "como será", da ansiedade interminável e agonizante, minha vontade era te ver, te conhecer, naquela noite mesmo. Mas o quarto estava bagunçado e eu teria uma prova na quinta. Depois disso nunca mais choveu, e eu achei que nunca te veria num dia de chuva

-Anteontem
Enquanto caminhava agarrada ao seu braço pela cidade, linda sob o efeito da chuva, lembrei que me pareceu impossível, e de como tanta coisa mudou. Se for parar pra pensar eu não sei, de fato, quando começou a acontecer.. nunca planejei. Fico pensando se do signo gostamos de coisas que parecem impossíveis. E se elas acabam depois que atingimos. Mas ao mesmo tempo é tão leve e ao mesmo tempo tão intenso que me faz acreditar nalguns momentos que nunca vai acabar. Olha só, dia 10 está muito mais impregnado de significado do que imaginávamos. E falando nele, ontem comemoramos: rindo, comendo, conversando sem parar, cheia de amor no peito - e no corpo inteiro. Quantos beijos seriam necessários para conseguir mostrar o quão bom é, para mim, estar com você? Faço a menor ideia, só sei que seriam muitos - MUITOS.

Gosto disso, sabe? Da troca constante, do quanto aprendo, do quanto me incentiva, das conversas, dos sorrisos, da segurança - ainda que haja momentos em que sinto um ciúme das profundezas, mas faz parte, da confiança, da liberdade, do respeito. De como cada coisa ganha significado, não pelos "inhos", mas pela veracidade. Do sério e da zoação. De nós dois, deitados na cama lendo. Gosto das imagens que me proporciona, muitas vão ao encontro das minhas, muitas extrapolam minha capacidade de imaginar e isso é ainda melhor. O tempo tem sido perfeito.

Ainda não sei depois, mas fico feliz por estar conseguindo ficar no presente, mesmo que por poucos instantes. Tantas discussões, tantas conexões. Acho que levei "os tapas do espirito santo", rs.  Caramba, tinha tanta coisa pra falar sobre isso, mas foi com os momentos - a efemeridade.

As vezes há vida.

O meu espaço, por vezes inabitado, procurando outros espaços para habitar. Insuficiente, eu.

Tem algo que me irrita demais: impossibilidade de pensar fora da casinha. Ego que cega. Necessidade de estar certa o tempo todo. Daí como discutir se for só para falar? Não quero ser hipócrita, então me incluo e me vigio. Reflexão distanciada as vezes ajuda.

Nossa, eu queria vomitar essas sensações. Não porque são ruins, pelo contrário, são incríveis. Mas dá uma agonia não saber ao certo de onde vem, o que é, para onde vai. Daí fico nessa de ouvir música aleatórias, sentindo coisas aleatórias, tendo imagens aleatórias. Por exemplo, agora, nesse momento, estou numa cabana de madeira, tem luzes coloridas e está frio pra caramba.. olhares, toques, coração saltando, perfume quente.

Sem frufrus: - ganhei uma festa surpresa - e foi surpresa de verdade;
                     - fui visitar a Giu em Campinas com a Lia - muitas lembranças, muitas;
                     - tô animada e feliz por estar aqui, as coisas tem feito sentido.

Da plenitude: não falta e nem sobra, encaixa, se entende, balanceia..

Em mim, experienciando.




domingo, 27 de março de 2016

Páscoa

101.

Eu tenho medo de ficar sozinha à noite. Medo de abrir a porta do quarto e atravessar o corredor. Medo de abrir a janela, ou fechar. Medo de apagar a luz. Tô tentando enrolar até alguém chegar em casa.. demora.. mesmo sendo de madrugada. 

Hoje é páscoa. Quando era pequena, lembro que vínhamos colecionando ovos aos poucos. Cada noite era mais um ovo em cima da geladeira - meu pai trabalhava num asilo e as senhorinhas nos mandavam chocolate (principalmente para mim e para a minha irmã), para meus pais era panetone. Agora pensando bem, o legal da páscoa era a tarefa difícil de escolher um entre tantos ovos. Era aguentar esperar até o domingo para poder abrir o ovo. E também me parece que os ovos não chegavam aos mercados com tanta antecedência. Meu pai raramente estava presente, sempre trabalhava. Isso é bom.. era um dia que não fingia algo que não era. Nos últimos anos tem sido obrigação. Dia em que se faz uma comida diferente, reúne a família, fim. Ano passado eu até fui às missas. Esse ano eu nem notei. Nem olhei os ovos de páscoa, só vi que os corredores dos congelados ficaram cheios, de um dia para o outro. E os brinquedos finalmente se assumiram mais importantes que o chocolate. Ano passado eu ainda fiz bombons. Não sei aonde quero chegar, na verdade.. talvez eu só esteja tentando matar tempo. Hoje eu não sei o que vai acontecer. Não passarei com família, nem com namorado. Uma amiga me chamou para passar com a família dela - serei adotada por um dia. Fiz torta de limão, pra quebrar com o doce - e tenho comido muito ultimamente. Fico pensando se anda perdendo o sentido ou se nunca teve. Quero chorar, mas pode ser só pânico também. Essa semana foi tensa. Fiquei jogada na cama, perturbada por pensamentos. Tem uma pressão gigantesca em diversos sentidos. Embora me faça imensamente feliz, eu não sei se vou aguentar. Como direciona a mente para outra coisa? Como engana, esconde acalma? Eu me distraio por alguns segundos e logo volta. E eu ainda não consigo levantar e abrir a porta. Deveria ter chegado, escovados os dentes e dormido. Tô feliz por não estar esquecida. Não quero pegar o ônibus. Eu nem sei o que eu quero. E se quero, nem sei para o quê. Ainda não vejo sentido nessa mudança - eu poderia estar em casa. Onde é casa? Também já nem sei. Nossa.. é bem ruim essa sensação. Todas essas. O não saber até quando será suficiente. De não conseguir sustentar as conversas. Daí eu penso em todas as coisas que poderiam ter sido diferentes. Mas tudo bem, não podem. Lembro que da primeira vez que consegui, no segundo ano morando aqui, levei os chocolates preferidos da minha mãe, e uma caixinha linda com uma fita rosa para a Bae, cheia também de seus chocolates preferidos. Ainda não era o ano para estarmos separadas.. ou talvez seja, mas eu ainda não estava pronta. Eu nem sei mais quando estaremos juntas as três de novo. Só as três. Eu levantaria cedo pra ir caminhando junto até a casa da minha vó, mesmo não gostando desse ritual. 

É infantil, mas sinto falta..

Caos, fragmentado.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

EsAp

O cheiro da sensação de estar com você.
Hoje - úmido, fresco, amadeirado, quente.

Me perseguem imagens. Principalmente seu olhar, de diferentes ângulos. Deitado aí meu lado, de cima enquanto deito no seu colo, deitado enquanto eu passo minhas pernas por cima do seu quadril. Há tantas coisas que eu quero compartilhar. Era o que temia. Querer compartilhar até as coisas mais insignificantes. E ao pronunciar as palavras em voz alta, perceber o quão verdadeira cada uma delas é. E que se tornam mais verdadeiras ainda ao juntar os significados e criar um todo. Fecho os olhos e lembro da textura da pele e calor do corpo. Lembro da sensação de descobrir os traços do seu rosto. Lembro dos dedos passeando pelos cachinhos. Então a cama parece dura, o quarto frio e a cabeça ja não encaixa tão bem no travesseiro.

Numa palavra - medo.
Ou pode ser frio na barriga.


Mas tem a chuva. Veio para indicar o momento certo e tem sublinhado essa afirmação para que eu tenha certeza.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Sorriso

(interno)

Do que se torna mais belo
A cada vez que se aprofunda.
Que se torna seguro;
Que se torna aconchego;
Que faz sentir;
- ainda que sejam sensações e não sentimentos - 
E talvez eu goste mais das sensações.
É mutável.
Sentimento parece estagnado,
como se não pudesse mudar.

Aquele abraço, juro que saí do meu corpo e flutuei por alguns segundos. O silêncio se juntava à conexão que os batimentos cardíacos estavam estabelecendo. ha. Eu senti pulsar algo que é constantemente ignorado e que não se manifesta. 

Têm vida. 



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

AL

Do lado menina.

O momento em que mais me apaixonei: se começar a chover, vamos tomar banho de chuva? 

Hoje foi um dia propício a essa saudade que me preenche quando eu vou, quando você vai, quando vamos. Quando adentrei a esse mundo, alheio ao meu, tentava capturar todos os momentos que imaginava que você contemplaria. Falhou: estava ativado para apenas alguns amigos da época do primeiro e segundo. Já faz um tempo que compartilhamos momentos, não é? Não importa se acontecem à distância ou com o calor da proximidade. Um ano depois, lembro bem da tarde das portas laterais abertas - as que me mostravam o céu cinza, encantador, e permitiam a passagem do ar úmido. O cheiro de café que sempre vem nesse espaço. E as músicas que ornam: com os nossos momentos, com as lembranças, com as roupas, o toque da pele. Caramba, eu gosto.. e ao mesmo tempo que tenho incontáveis porquês, não sei o motivo. Vai além da minha racionalidade e facilidade em decifrar ações e pessoas. 
Hoje o sol se pôs num azul contínuo e "degradênte". 
Consegue acreditar? Há quase uma semana sentou-se atrás de mim.
Enlaçou seus dedos nos meus enquanto eu tentava prestar atenção.
Leve fricção, desliza.
Nesse mesmo lugar, hoje resfriei.
A chuva intensa, pesada. Água batia na janela e respingava.
Fecha os olhos, sente os pequenos arrepios simultâneos na pele.

Na meia luz - e eu gosto tanto. A meia luz do fim do ano que vi nos prédios. Essa meia luz só faz sentido em sua companhia. Porque só fica completa com o seu cheiro, com a sua voz. Têm mais, há muito mais. Acreditando que o último número da minha senha é 9. A forma como puxa o meu corpo para si e me mantém por cima. E como eu sorrio. E dou risada. E me divirto. Eu sinto - de tudo um pouco. Os beijos no topo da cabeça enquanto nos abraçamos, seja na vertical ou horizontal. E o levantar das sobrancelhas ao posar para uma foto "espontânea". O destaque que ganha nossas cores quando estamos lado a lado. O sorriso leve quando te encho de beijos, ou quando simplesmente chego mais perto. 

Sinto reticências. Há tanto para falar, mas não sai.




(3, 4, 5, 7)



terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Singular

Foram inteligentes. Essa palavra vem à boca sem pensar.

Falarei com o coração. Aquele buraco enorme no peito. 
Ontem, com as testas encostadas, quase voltei aos 17 - da época em que eu chorava aos soluços na partida. Eu lembro de tanta coisa. Eu lembro de como se despedia de mim, primeiro tímido, depois me pediu um beijo, depois com o semblante baixo. Na penúltima, com o até logo. Hoje parece que foi o horizonte, o vago do horizonte. Eu lembro das olhadas que eu dava de canto de olho. Dos dedos que até hoje não conseguem se entrelaçar muito bem, mas que quando se tocam me tiram sorrisos. Ali com os rostos próximos eu percebi que dos 16 para cá faz muito tempo. Não precisei fechar o ciclo, ele mesmo o fez. Mas eu, como a apegada que sou, sofro por deixar ir, esse deixar que vai além da minha escolha. Está indo por conta própria. Cara. Eu fui tão feliz, eu vivi, todos os momentos. E talvez por isso tenha sido tão especial, me trouxe vida para momentos que eu considerava natural não ter emoção. (sorriso). A gente se encaixa em tantos sentidos - acho que é a ideia de signo oposto e complementar. Mas sim, tem o oposto. E venho tentado descobrir há quanto tempo o oposto tem se tornado mais intenso. Não sei. Sei que os corpos se atraem de uma maneira inexplicável, mas sem a paixão dos 17. Somos alguéns de intimidade, conhecemos o corpo um do outro. Nos encaixamos. E quando eu deito em seu peito, as vezes ainda luto pra não depositar todo o meu eu, tudo o que eu sou. Não por querer que tome conta de mim, mas porque confio. Porque gosto. Gosto sinceramente. Faz acreditar que ainda tenho algo que pulsa, além do físico e biológico. Mas logo se apaga, somos racionais demais. Então viro para o meu lado da cama, abraço o travesseiro e volto todo o meu eu para mim. Sinto que é daquelas lembranças que não demonstramos reações, mas há o sorriso interno. Talvez uma levantada no canto do lábio. Também nos encaixamos nas sensações, não é mesmo? Nas risadas, nas brincadeiras. Posso te dizer que te odeio, você sabe que é o extremo oposto. Somos talvez quase como irmãos-gêmeos, nos entendemos. Mas.. e sempre tem um mas.. desse nosso acordo só restou você, já não me sinto dentro, integrante dele. Sou qualquer uma, ou mais uma. Sou dessas que você passa horas trocando mensagens pelo celular, sou um ícone, com uma foto estagnada. E enquanto está aqui, sobre essa mesma cama em que deito agora, enquanto adentra ao meu mundo, nada encontra se não um espelho. Antes de você vir, a euforia, a ansiedade da menina. Agora, dessa tecnologia e instantaneidade fico no máximo com os filmes. A sensação exacerbada decorrente da cachaça me atingiu de uma forma peculiar. Não vemos o relacionamento da mesma forma. Então não há culpado, errado ou algo do tipo, apenas dois pontos de vista diferentes. E essa diferença me chateou em alguns pontos. Não só isso. Você se importa muito com o que todos pensam a seu respeito. E eu prefiro me importar com o que eu penso e com as minhas vontades. Vendo pelo seu viés, entendo, mas não pelo meu. Logo, acabou: qualquer possibilidade além dessa amizade desconfigurada a qual pertencemos. E pertenceremos pela eternidade, eu tenho certeza. Agora você está pelas nuvens, passeando contra as leis da gravidade. Possivelmente a fotografar paisagens que admiraremos com sensibilidades distintas. Eu te odeio, no extremo oposto. Meu preguiçoso branco privilegiado. Da sua universitária chata de instituição pública. 

sábado, 23 de janeiro de 2016

Inter

Queria abrir os poros e deixar vazar toda essa energia pesada. 

Da arte de se auto flagelar - 

Está o vazio da noite que deveria ser acompanhada de risadas imersas em nostalgia e desmemória. 

Ouço músicas distintas e nenhuma me satisfaz. Aquele incômodo na popa da bunda de sono. Essa separação está mexendo muito mais comigo do que eu esperava. A distância tem levado importâncias. E, faça o que fizer, não me deixe sem resposta.

A virilha doi. Alonguei noite passada bem mais do que em aula. Aventuras, aventuras - e se passam a passar desse ponto? Fujo dos vícios e descontroles. Então o clichê: deixo de viver por medo de me machucar. Ou não me machuco para viver? Dá pra viver sem se machucar? ... meu joelho disse que não. Mas sim, eu tenho medo. Eu tenho muito medo. De ter vontade de contar a coisa mais idiota dona de algum sorriso do dia. E em dias vazios como hoje, deitar em seu colo e pedir carinho, ganhar carinho, trocar carinho. Vou ficando. Eu sou a idiota que fica para trás. A bobinha que sorri para tudo e para todos. Eu sou a nada sexy da sensibilidade perdida. A que cai de sono enquanto escreve, cabeça para baixo e pernas para cima. Ainda não choveu. Nenhuma vez. Prefiro acreditar que foi para possibilitar as aventuras. Na rotatória, sob as nuvens e o brilho das estrelas. E aqueles segundos eternos iluminados por uma lanterna que cegava todo o redor. 

rompido, minado. 

Eu sou a que estraga tudo ao final. A que faz os outros sofrerem. E por isso, talvez deva ser a que em nada se relaciona. Tô sentindo a distância. E a euforia dos primeiros vai dando lugar para o cansaço do massante. Das conversas frágeis e cotidianas. 

Alguns ângulos me deixam sem ar.