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terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Singular

Foram inteligentes. Essa palavra vem à boca sem pensar.

Falarei com o coração. Aquele buraco enorme no peito. 
Ontem, com as testas encostadas, quase voltei aos 17 - da época em que eu chorava aos soluços na partida. Eu lembro de tanta coisa. Eu lembro de como se despedia de mim, primeiro tímido, depois me pediu um beijo, depois com o semblante baixo. Na penúltima, com o até logo. Hoje parece que foi o horizonte, o vago do horizonte. Eu lembro das olhadas que eu dava de canto de olho. Dos dedos que até hoje não conseguem se entrelaçar muito bem, mas que quando se tocam me tiram sorrisos. Ali com os rostos próximos eu percebi que dos 16 para cá faz muito tempo. Não precisei fechar o ciclo, ele mesmo o fez. Mas eu, como a apegada que sou, sofro por deixar ir, esse deixar que vai além da minha escolha. Está indo por conta própria. Cara. Eu fui tão feliz, eu vivi, todos os momentos. E talvez por isso tenha sido tão especial, me trouxe vida para momentos que eu considerava natural não ter emoção. (sorriso). A gente se encaixa em tantos sentidos - acho que é a ideia de signo oposto e complementar. Mas sim, tem o oposto. E venho tentado descobrir há quanto tempo o oposto tem se tornado mais intenso. Não sei. Sei que os corpos se atraem de uma maneira inexplicável, mas sem a paixão dos 17. Somos alguéns de intimidade, conhecemos o corpo um do outro. Nos encaixamos. E quando eu deito em seu peito, as vezes ainda luto pra não depositar todo o meu eu, tudo o que eu sou. Não por querer que tome conta de mim, mas porque confio. Porque gosto. Gosto sinceramente. Faz acreditar que ainda tenho algo que pulsa, além do físico e biológico. Mas logo se apaga, somos racionais demais. Então viro para o meu lado da cama, abraço o travesseiro e volto todo o meu eu para mim. Sinto que é daquelas lembranças que não demonstramos reações, mas há o sorriso interno. Talvez uma levantada no canto do lábio. Também nos encaixamos nas sensações, não é mesmo? Nas risadas, nas brincadeiras. Posso te dizer que te odeio, você sabe que é o extremo oposto. Somos talvez quase como irmãos-gêmeos, nos entendemos. Mas.. e sempre tem um mas.. desse nosso acordo só restou você, já não me sinto dentro, integrante dele. Sou qualquer uma, ou mais uma. Sou dessas que você passa horas trocando mensagens pelo celular, sou um ícone, com uma foto estagnada. E enquanto está aqui, sobre essa mesma cama em que deito agora, enquanto adentra ao meu mundo, nada encontra se não um espelho. Antes de você vir, a euforia, a ansiedade da menina. Agora, dessa tecnologia e instantaneidade fico no máximo com os filmes. A sensação exacerbada decorrente da cachaça me atingiu de uma forma peculiar. Não vemos o relacionamento da mesma forma. Então não há culpado, errado ou algo do tipo, apenas dois pontos de vista diferentes. E essa diferença me chateou em alguns pontos. Não só isso. Você se importa muito com o que todos pensam a seu respeito. E eu prefiro me importar com o que eu penso e com as minhas vontades. Vendo pelo seu viés, entendo, mas não pelo meu. Logo, acabou: qualquer possibilidade além dessa amizade desconfigurada a qual pertencemos. E pertenceremos pela eternidade, eu tenho certeza. Agora você está pelas nuvens, passeando contra as leis da gravidade. Possivelmente a fotografar paisagens que admiraremos com sensibilidades distintas. Eu te odeio, no extremo oposto. Meu preguiçoso branco privilegiado. Da sua universitária chata de instituição pública. 

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