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domingo, 27 de março de 2016

Páscoa

101.

Eu tenho medo de ficar sozinha à noite. Medo de abrir a porta do quarto e atravessar o corredor. Medo de abrir a janela, ou fechar. Medo de apagar a luz. Tô tentando enrolar até alguém chegar em casa.. demora.. mesmo sendo de madrugada. 

Hoje é páscoa. Quando era pequena, lembro que vínhamos colecionando ovos aos poucos. Cada noite era mais um ovo em cima da geladeira - meu pai trabalhava num asilo e as senhorinhas nos mandavam chocolate (principalmente para mim e para a minha irmã), para meus pais era panetone. Agora pensando bem, o legal da páscoa era a tarefa difícil de escolher um entre tantos ovos. Era aguentar esperar até o domingo para poder abrir o ovo. E também me parece que os ovos não chegavam aos mercados com tanta antecedência. Meu pai raramente estava presente, sempre trabalhava. Isso é bom.. era um dia que não fingia algo que não era. Nos últimos anos tem sido obrigação. Dia em que se faz uma comida diferente, reúne a família, fim. Ano passado eu até fui às missas. Esse ano eu nem notei. Nem olhei os ovos de páscoa, só vi que os corredores dos congelados ficaram cheios, de um dia para o outro. E os brinquedos finalmente se assumiram mais importantes que o chocolate. Ano passado eu ainda fiz bombons. Não sei aonde quero chegar, na verdade.. talvez eu só esteja tentando matar tempo. Hoje eu não sei o que vai acontecer. Não passarei com família, nem com namorado. Uma amiga me chamou para passar com a família dela - serei adotada por um dia. Fiz torta de limão, pra quebrar com o doce - e tenho comido muito ultimamente. Fico pensando se anda perdendo o sentido ou se nunca teve. Quero chorar, mas pode ser só pânico também. Essa semana foi tensa. Fiquei jogada na cama, perturbada por pensamentos. Tem uma pressão gigantesca em diversos sentidos. Embora me faça imensamente feliz, eu não sei se vou aguentar. Como direciona a mente para outra coisa? Como engana, esconde acalma? Eu me distraio por alguns segundos e logo volta. E eu ainda não consigo levantar e abrir a porta. Deveria ter chegado, escovados os dentes e dormido. Tô feliz por não estar esquecida. Não quero pegar o ônibus. Eu nem sei o que eu quero. E se quero, nem sei para o quê. Ainda não vejo sentido nessa mudança - eu poderia estar em casa. Onde é casa? Também já nem sei. Nossa.. é bem ruim essa sensação. Todas essas. O não saber até quando será suficiente. De não conseguir sustentar as conversas. Daí eu penso em todas as coisas que poderiam ter sido diferentes. Mas tudo bem, não podem. Lembro que da primeira vez que consegui, no segundo ano morando aqui, levei os chocolates preferidos da minha mãe, e uma caixinha linda com uma fita rosa para a Bae, cheia também de seus chocolates preferidos. Ainda não era o ano para estarmos separadas.. ou talvez seja, mas eu ainda não estava pronta. Eu nem sei mais quando estaremos juntas as três de novo. Só as três. Eu levantaria cedo pra ir caminhando junto até a casa da minha vó, mesmo não gostando desse ritual. 

É infantil, mas sinto falta..

Caos, fragmentado.

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