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segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Chá com leite

Três letras. Definitivamente não dão conta desse turbilhão. Quando algo termina, algo que gostamos muito é até redundante dizer que fica o vazio. A chave na porta, abre a porta, fecha a porta. O rosto virado e cabeça baixa. Cruza os dedos, escadas. Abre a porta, o som da porta se fechando. Abre a porta, repara no amasso acima da altura. Porta batendo. Passos. Passos. Passos. Silêncio que guarda todas as palavras que queriam sair pela boca, desordenadas, um emaranhado de palavras, lembretes, memórias e pedidos. Descruza os dedos. Abre a porta, fecha a porta. O chá ficou na mesa. Esfriou até. Chá com leite, feito picolé. 

O óculos embaçado e eu nem me importo. Pelo contrário.. queria ele embaçado todos os dias. Esse ritual de limpar-embaçar-limpar. Até porque a melhor visão está na junção de todos os sentidos. As vezes é tato e olfato. As vezes é apenas audição, quando sussurra em meu ouvido e eriça todos os pelos ao redor. 

Desses detalhes pequenos. O som dos pássaros, as árvores que crescem juntas. Cada flor amarela que cai e forma um tapete gigante. Os poros do rosto, o capricho. A sombra e o silêncio que agora acompanham. A flor que encontrei na escada, cheiro de lá. Queria ser forte pra aguentar, mas sustentar tal decisão também exige uma força que estou procurando. Porque ameacei abrir a boca e me contradizer e desejei que tais palavras nunca tivessem sido ditas. E, no entanto, foi embora e voltou o vazio. 

E se a música toca.. e se me chama pra dançar.. e se eu danço colada com os olhos marejantes. E se acompanha o vinho ao fazer a janta e antes de jantar. E se o vento bate em frequências e intensidades diferentes. Continuam em reticências, esperando por voltar. E fazem parte das minhas melhores lembranças. 

Eu odeio todas essas formas de comunicação. Distancia cada vez mais. Distância mais. Meio que cansei. 

Agora o fim. Três letrinhas que deixam rastros de mil alfabetos, em mil línguas. 

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